viajar é sinônimo de comer

Olá viajantes

Eu não sei vocês, mas eu aprendi que viagem tem sabor.

Quando criança, viajei muito com a minha família e ainda lembro bem do cheiro do café da manhã quando morávamos em Manaus em 1994. Nessa época eu confesso, não gostava de comida de panela, minha coisa era pão com queijo, ovo e um copo de achocolatado. A famosa merenda.

Eu amo merenda! E depois de adulta defendo que a merenda é livre e pode ser o que ela quiser, inclusive um sushi às 16h.

Em Manaus eu comia muito peixe e lembro do dia que almoçávamos num restaurante flutuante, engasguei com uma espinha de peixe e veio, do mais absolutamente nada, uma mulher com uma colher cheia de farinha, enfiou na minha boca e disse "mastigue e engula". Assim fiz. Assim me desengasguei.

O cheiro do Norte é uma coisa bem específica. Rio com mar com peixe com boto-cor-de-rosa e peixe-boi. Quando fui no Pará, em 2018, o cheiro era similar ao de Manaus e isso me trouxe muitas memórias saborosas.

Mas o Pará é um país a parte. A comida, a música, pessoas, paisagens e tradições se unem numa coisa que só quem já experimentou o lugar, vai entender.

Quando mudamos para Natal e passamos 9 anos descobrindo a cidade, os melhores rolês eram ir à praia de Ponte Negra comer Ginga com Tapioca. Ginga é Piaba. E era basicamente um espetinho de Piaba frita, acompanhado de uma tapioca fina que derrete na boca, servida sobre uma folha de bananeira. 

Ginga, tapioca e folha de bananeira. Um cheiro tão particular. Cheiro de saudade, inclusive.

Depois da praia almoçávamos num restaurante que a paçoca tinha tanta carne-de-sol que eu comia basicamente um baião de dois bem molhado e a paçoca. E isso era incrível.

Nesse tempo em que me reconhecia Potiguar, viajávamos 2x no ano para Fortaleza, a cidade que nasci. Em 9 anos foram cerca de 18 viagens, maioria de carro, as vezes de ônibus e raramente de avião. Independente disso, uma coisa sempre foi certa, chegar em Fortaleza tem um cheiro singular.

Que cheiro? Jamais saberei detalhar, mas tem. Acho que é preciso sair e voltar muitas vezes para sentir.

Além do cheiro da cidade, tinha o cheiro do café solúvel que minha avó fazia e faz até hoje. Acho que herdei isso dela. 

E ah, um clássico, o cheiro e sabor do Bulim Cearense. Isso é memória afetiva pura!

Lembro que com uns 14 anos, conheci de uma só vez a maior parte do Sudeste, isso porque em Belo Horizonte fomos para a formatura do meu pai e lá comi uma das melhores coisas da minha vida, uma torre de batatas-fritas com todas as carnes que você imaginar, cobertas de molho cheddar. Absurdo! Os mineiros entendem do rolê.

Em seguida passamos o ano novo em São Paulo e muitas pizzas aconteceram. As melhores, inclusive. E no começo de 2005 nos mudamos para o Rio de Janeiro. Aqui faço uma breve pausa, porque o Rio... ele é assim, bem peculiar gastronomicamente. 

Como encontrar na Lagoa Rodrigo de Freitas um pipoca que misturava a pipoca doce, a pipoca salgada e bacon. Comi? Comi. Fui feliz? Nem tanto. Mas tenho zero moral para falar algo sobre misturas gastronômicas. 

Outra coisa que lembro bem é o famoso salgado que faz a festa no centro carioca, o Joelho. Basicamente um folheado de queijo com presunto. Ou seja, merenda.

Cada lugar um sabor, um cheiro, um negócio misturado com uma coisa.

Viajar pra mim é isso. É degustar as paisagens. Sentir o cheiro do clima. Seco, molhado, misturado ou amargo. Tudo influencia no sabor. E é por isso que tem pratos que só fazem sentido no seu lugar de origem. 

Isso é viajar.

(por aqui foi um pouco de Brasil e deixo para o nosso próximo encontro as cidades que degustei na Europa)





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