Tenho medo da qualidade do efêmero.
Medo porque minha vida sempre foi assim. Mas a de todos são, não é mesmo? Todas são.
Penso se é um medo que faz sentido, pois se não o fizer, vira fobia.
Existe isso? "Efêmerofobia"? Pesquisei e não tive respostas.
O dicionário brasileiro diz que Efêmero é 1. o que dura um dia; 2. o que é passageiro, temporário, transitório.
É um medo de, exemplo, começar esse texto e não estar mais aqui para terminá-lo.
Medo do fim. Mas como eu poderia ter medo de algo que sempre pautou a minha existência?
31 anos de novos ciclos. De começos, fins e recomeços. Mais recomeços do que qualquer outra coisa, aliás.
Um vida transitória que parece não ser feita com a intenção de ser guardada ou preservada por longo período.
Uma vida que tenta se registrar em matéria fotográfica ou escrita. Que tenta, porque o importante é mesmo tentar.
A vida é uma tentativa de vida. Ou do que ela deveria ser.
A palavra 'Efêmera' deriva do grego. E é de fato um presente deles mesmos.
Ironicamente, talvez seja isso que dê a graça da vida, essa impermanência divina.
Talvez ela explique o replay daquela música. Que quando termina, a colocamos novamente para tocar fazendo com que ela nunca acabe. Nos enganamos ao negar que a sua reprodução é a execução que anuncia o seu próprio fim.
O incômodo. Desassossego. O medo da finitude vem com um combo de vontade de fazer tudo durar uma eternidade desconhecida.
É preciso aprender a lidar com a impermanência das coisas, pessoas e cidades. E sentimentos.
Afinal, todo dia a gente muda, né?
Uma efemeridade particular.
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