Sinto muito.




Como de costume, acordo todos os dias bem cedo. E quando digo cedo, é bem cedo mesmo. Estudar e trabalhar longe de onde moro tem suas vantagens, como passar cerca de 2 horas, ida e volta, dentro de um ônibus lendo um livro, ouvindo música ou simplesmente pensando na vida, observando as pessoas. Engraçado que quando vou de carro, o que seria algo bom pois ganho 1 hora a mais no meu dia, dirigir me impede de fazer uma leitura, acabo ouvindo menos músicas e faço menos reflexões sobre a vida. No modo automático, tenho que estar focada no trânsito, no cara que me fechou na curva, no ciclista a minha direita, na mulher que entrou na minha frente sem sinalizar sua mudança de faixa. É ganhar a vantagem do conforto e perder a vantagem de sentir o mundo e suas coisas. Não que sozinha, no carro, ouvindo William Ftizsimmons eu não consiga sentir, mas quando estamos só ali, sentados no banco desconfortável do ônibus, onde geralmente não conhecemos ninguém e estamos com a expressão facial mais neutra possível, ali nós somos apenas nós. É um estado emocional que dificilmente conseguimos atingir em outros lugares. As vezes sinto que um banco de ônibus me entende mais do que muita gente, simplesmente porque há coisas que não consigo expressar nem para mim mesma. Tipo o que venho sentindo há um tempo. Eu não sei explicar o que é. E isso me deixa muito frustrada. Não consigo definir se é algo ruim ou se é simplesmente uma invenção da minha mente inquieta. Mas eu sinto. Sinto que há algo que de vez em quanto retorna à minha mente só para dizer que está ali. Não importa se está tudo bem, se está tudo caminhando perfeitamente de acordo com o esperado, essa "coisa" aparece do nada e me deixa intrigada. As vezes me deixa até mau humorada, sem vontade de fazer nada. Nesses momentos eu fico bastante preocupada, pensando no que seja essa coisa sem sentido que mexe tanto com a minha mente. Na maioria das vezes eu tento ignorar, pois se não acho explicação, não deve ser nada demais. Não sei. mas eu sinto. Esse lance de sentir essa "coisa" me fez questionar até se eu realmente sinto isso. Parece confuso, né? Imagine para mim. Perguntei a mim mesma se eu sentia as coisas do mundo como todo mundo sente. Em um determinado momento acreditei friamente que não, que todas as outras pessoas sentem um mundo que eu não compreendo. Depois tive a conclusão, eu sinto sim, mas sinto é demasiadamente esse mundo que temos. Sinto muito tudo. Relações, família, amizades, conquistas e decepções, ansiedades. Sinto muito o viver que, para mim, começa no despertar das 5:30 do meu celular e só acaba quando encosto a cabeça em um bom travesseiro. Eu sinto muito tudo e eu não deveria ser assim, porque isso as vezes dói. Mas também me faz sorrir por tudo e principalmente pelas besteiras mais idiotas do mundo. É confuso e estranhamente resolvi falar sobre "essa coisa estranha que me acontece de vez enquanto" em um momento em que não estou sentido ela, talvez porque quando a sinto, é impossível sair uma palavra sequer para começar esse texto. De qualquer forma, desculpe pelo texto melancólico, geralmente escolho temas mais motivadores. Mas caso você não se importe com nada disso, sinto muito.

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