Leveza


Por algum motivo que não sei qual, sinto que de um tempo cá as coisas estão mais leves. Sempre falam que quanto mais velho ficamos, mais rabugentos nos tornamos e nisso terei que discordar. Eu, que sempre fui meio rabugenta, reclamona, abusada e crítica de tudo, percebo que  a cada ano que passa, a cada mais uma nova vela assoprada, tenho me tornado uma pessoa mais leve e tranquila. Talvez a minha estupidez viesse da minha falta de bom senso, de achar que o mundo conspirava contra mim e que por isso eu deveria ser uma pessoa amarga. Amarga no sentido de achar tudo sem graça, achar todo mundo esquisito, achar que positivismo era uma besteira que as pessoas inventavam para se auto enganar. Tive uma infância e adolescência um pouco difícil, me mudei trocentas vezes de trocentos lugares e a minha ultima mudança de cidade não foi fácil de entender. Demorei dias, meses, anos para entender tudo o que aconteceu. Me fiz refém disso em muitas situações. Usei isso como desculpas para os meus erros, mas mal sabia eu que há os erros que não possuem desculpas nenhuma para serem cometidos, eles apenas acontecem como a vida acontece. Depois de muito tempo eu aceitei a mudança e todas as mudanças que vieram junto com ela. E então as coisas começaram a fluir. O famoso clichê do "Fique bem consigo mesmo primeiro, para depois ficar bem com o mundo" e para mim o todo entendimento disso veio com o passar dos anos. Lembro quando tinha 21 anos, já me via um pouco mais positiva, mas ainda sentia um pouco de amargura dentro de mim. Mas aos 23 foi quando eu de fato mudei. Me livrei de tudo o que me incomodava e me estagnava, saí de relacionamentos que me despedaçavam, mas saí com mais pedaços do que de quando entrei neles. Isso tudo mudou todo o resto de tudo. Não foi alguém que me mudou, eu que aprendi com as minhas próprias escolhas, com os meus muitos erros e os meus poucos acertos. Penso que isso tudo me engrandece, quando olho para atrás e vejo o quão perdida eu era e o quanto sábia tenho me tornado. E com a certeza de que ainda tenho muita coisa a aprender. A vida é assim, cada um encara da maneira que se sente confortável. Talvez antes eu encontrava conforto no arder das feridas, hoje o meu conforto está na pele macia das cicatrizes curadas. O importante é que hoje, com quase 25 anos, me vejo como eu me imaginava quando era criança: uma mulher forte que acredita em seus sonhos, procurando voar com os pés no chão e tendo a certeza de que nada - N A D A - irá tirar a sua fé de que sempre há dias melhores para se viver. Isso é ser leve, isso é ter leveza, a leveza de ser - simplesmente - humana.

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