Boas viagens



Pegar a estrada é algo que sempre me faz relembrar a minha infância. Acordar cedo, pegar a mala já pronta e colocá-la no porta malas, levar apenas o básico e essencial: roupas, perfume, escova de dentes e bom protetor solar. Durante nove anos morei em Natal-RN, praticamente a minha infância inteira e durante esses nove anos viajei a Fortaleza no mínimo umas duas vezes por ano, indo e voltando, para visitar parentes. Sempre de carro ou de ônibus. Mais ou menos seis ou sete horas de viagem. Mais ou menos seis ou sete horas de pura estrada, cidadezinhas, muito verde, pouco verde, montanhas, campos secos, animais soltos, animais mortos, pessoas e seus destinos. Lembro-me como se fosse ontem, meu pai pegando as fitas de música, escolhendo qual artista iria nos acompanhar nas viagens. Normalmente Raul Seixas, Fagner, Zé Ramalho, O Grande Encontro, entre outros artistas e coleções do tipo. E quando uma fita acabava, a briga com o meu irmão começava, a disputa era para ver quem ia rebobinar a fita usando uma caneta bic. Coisas de antigamente. Coisas de uma época onde a imaginação ia mais longe, pois não se tinha celulares, muito menos internet móvel. Por isso na maior parte do tempo não se tinha muito o que fazer. O jeito era inventar algo, inventar qualquer coisa para que o tempo e a viagem passasse rápido. Essas viagens marcaram muito minha infância. Viagens em si me marcaram muito, afinal desde pequena to nas estradas, aviões, barcos. Sinto bastante falta disso, dessa agitação. Anseio sempre pelo novo. Aprendi a lidar com mudanças, das mais simples às mais drásticas. Mas isso são outros quinhentos. Voltando ao foco, viajar, pegar uma boa estrada, para mim é algo incrível. Para outros pode ser chato e até tediante, mas esses ainda não entenderam que as melhores coisas da vida estão nas coisas mais simples, como sentir o vento no rosto ouvindo uma boa música ou lendo um livro, conversando e rindo, deslumbrar o tempo contemplando paisagens. Inspirando-se sempre.

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