Pássaros pretos


Ela queria um livro, ele queria um cd. Juntos entraram em uma loja que acabara de abrir na rua principal da cidade. Estava cedo, o sol ainda pouco se mostrava. Na loja tinha algumas pessoas tomando café da manhã, mas eles não estavam com fome, a misteriosa e incessante fome ainda não tinha feito efeito. Cada um vai pro seu lado, movidos pelos seus interesses mais egoístas. Poucos minutos depois se reencontram em um corredor estreito, rodeados por livros de todos os tipo e mal organizados ainda. Ela diz que não encontrou nada que a agradasse, já ele estava com um livro em sua mão, mas o livro era muito caro e eles só tinham trinta e cinco reais e alguns poucos centavos. De repente ela avista o livro que ela procurava há alguns meses, mas para o seu azar ele valia o dobro do que eles tinham no bolso. Olham-se frustrados durante alguns segundos e cada um devolve o produto para a prateleira. Entre um silencio desconcertante e as poucas vozes que conversam no lugar, ouvem se clássicos acordes e logo Blackbird invade não só o lugar, mas também todas as mentes sujas - ou não - do lugar. Ela caminha em direção a saída, enquanto ele corre para não ficar para trás. Sutilmente ele pega na mão dela e pede para que ela o espere. Ela sorri e balança o seu cabelo negro. Juntos saem da loja e veem que o sol não estava mais tão tímido. Ela abre a bolsa e pega o seu óculos escuro imediatamente, pois a fotofobia é sua inimiga numero um. Começam a andar sem saber muito bem para onde, afinal, depois de uma noite regada a muito álcool e de muitas estrelas no céu... destino nenhum é o destino de todos. O cansaço começa a bater e ela, inquieta como sempre, suplica pela sua cama ou por algum lugar para sentar. No caminho ele pede para que ela espere, pois precisa comprar algumas coisas. Após alguns minutos ele sai da loja de conveniência segurando dois sacos com seis cervejas e um masso de cigarros. Lembram que não estão muito longe de um lugar que é bastante frequentado nas noites de terça-feira. Tratava-se de um casarão abandonado, onde rolava alguns shows de bandas despretensiosas. Abrem duas cervejas e saem em direção ao casarão. Dez minutos depois eles se dã conta de que não estavam tão perto assim do casarão e de que só restava mais uma cerveja para cada um. Com um sorriso cínico no rosto e pisando em buracos inexistentes eles chegam ao casarão. Ela se senta e ambos acendem sues respectivos cigarros. Eles se olham por alguns segundos e aquele silencio desconcertante reaparece. Os minutos passam e nenhum frase é concluída. Nenhuma palavra é dita até que depois de três cigarros ele diz que precisa ir embora. Ela concorda e se levanta. "Merda, acho que esqueci meu isqueiro lá dentro", ela diz. Eles voltam para onde estavam e ele vê que o isqueiro não estava ali. "Eu sei, o enfiei no seu bolso sem você perceber", diz ela rindo e sai em direção a porta. Ele fica parado poucos segundos sem entender muito bem. Corre até ela e pede explicação. Ela sorri, balança o seu cabelo negro e vai embora... sem nem ao menos dizer o seu nome.

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