Talvez por uma questão de preguiça eu resolvi não pensar nisso. Mas foi inevitável, aliás, tendo isso desde pequena, seria impossível não me tocar. Mas a verdade é que eu sempre gostei das minhas feridas, principalmente das minhas cicatrizes, e quem me conhece sabe, tenho mais de 10 delas pelo corpo. Bem, não só pelo corpo. Sempre gostei de ficar tirando a casquinha delas. Prazer estranho, mas acredito que não sou filha única nesta sensação. Ficava tirando a casquinha até um dia a ferida não mais sangrar, pois aí não haveria mais casquinha para arrancar. E isso tudo é estranho, pois quem é gosta de cutucar o que não deve te lembrar uma situação boa? Masoquismo, de certo. Tenho custado a acreditar, não, minto, acredito que gosto disso. Mesmo. De cutucar aquilo que um dia não me fez bem. E ficar tirando a casquinha, para vê-la jorrar o que tem para pôr para fora. Estranho? Bem, me diga o que é normal então. Minhas cicatrizes são históricas, mas isso não me faz singular, todas as cicatrizes alheias também são. Físicas ou não, todos nós temos. E é bom cuidar de cada uma direitinho, se não a ferida nunca vai parar de sangrar quando você for cutuca-la. Na verdade é melhor nem mexer nelas, atrapalha na cicatrização. Não faz muito tempo, ganhei algumas novas. Uma não dá pra ver, mas ela doeu muito mais do que as duas novas que ganhei nas costas. O engraçado é que essas duas novas - das costas - se juntou com mais uma que eu já tinha ganhado quando tinha 3 anos de idade, quando morava em Manaus. É, até especificando a cidade que ganhei cada uma eu sei. Que nem a do joelho, que parece uma, mas na verdade são três que viraram uma. Uma de cada lugar: Manaus, Fortaleza e Natal. Nessa ordem mesmo. Mas enfim, ninguém mais aguenta esse papo de cidades. Nem eu. Mas de uma coisa eu sei, minhas cicatrizes são discretas. Bem, pelo menos nunca ninguém reclamou, até porque fiz questão de cuidar de cada uma, para que depois a marca não ficasse muito feia. Mas algumas são inevitavelmente feias, mas que bom que essas as outras pessoas não conseguem enxergar. E nisso eu sou totalmente egoísta, pois nem se pudessem enxergar eu não deixaria. Certas coisas devem ficar apenas para você ver e sentir, só por um simples detalhe: mesmo que você mostre para os outros... ninguém as entenderia.
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