Cautela

Cinco e meia da manhã, pássaros fingem que cantam em minha janela, um novo dia parece começar, trazendo Deus sabe lá o que. Talvez alguma novidade, boa ou ruim, não existe meio termo, mas existe o tanto faz. Levanto da cama, olho para o relógio e caminho até a janela, e não sei o motivo, mas por alguma razão me lembrei da minha infância. Fase pura e inocente, onde brincar com balões, fingindo que você vive em outro mundo, parece ser a viagem mais distante que você é capaz de fazer. Quando eu era guria, eu gostava de andar de bicicleta com as minhas amigas momentâneas da época. Aquela vila era enorme, e para nós era o nosso mundo. Costumava gostar de andar rápido, correndo, apostando corridas com os meus amigos e desconhecidos. Adrenalina boa, mas foi logo aí que notei que quando corremos demais, podemos perder o controle do caminho e acabar de rosto no chão. Caí algumas vezes até aprender que para que tudo desse certo eu deveria ter cautela. Cada passo na sua vez. Mas essa é uma das minhas manias feias, a de querer andar de pressa, culpa do meu irmão que sempre teve pernas maiores do que as minhas, eu precisava correr para alcançá-lo quando íamos para o colégio. E assim fiquei. Quem me conhece sabe que ando rápido, dou passos largos, estranhamente firmes. Talvez seja por isso a minha pressa de chegar sempre logo nos lugares, de querer ver o que tem na frente. Mas esqueço-me que só pseudos videntes tem o dom de ver o futuro. A cautela é gostosa de ser trabalhada, de ser arduamente esperada e respeitada, mas a minha é puramente contraditória, quem já viu alguém ter pressa em ter cautela? Eu, mas é melhor voltar para a cama e aproveitar os trinta minutos que foram reservados para o meu sono.

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